sábado, 17 de maio de 2014

Férias Voluntárias


Aumenta a procura por viagens ao exterior que associam trabalho social a lazer. E que tão bem fazem ao currículo




RIO — Filha de um professor e de uma enfermeira, Mariana Serra sempre admirou as profissões dos pais, porque, diz ela, são de dedicação integral ao próximo. Mas, formada em relações internacionais, Mariana acredita que não importa a área de atuação — todo mundo pode reservar algum momento da vida para ajudar quem precisa.


Pensando nisso, desde 2011, vinha pesquisando o conceito de férias voluntárias, comum nos Estados Unidos, Austrália e países europeus. Resultado: ano passado, usou seus dias de descanso, na construtora em que trabalha, para integrar um grupo de voluntários de uma creche, no Quênia:

— Já que nem todas as profissões têm caráter social e as pessoas estão cada vez mais atribuladas, por que não tirar férias, ir para um lugar novo e fazer um trabalho voluntário ao mesmo tempo?
MULHERES DE ATÉ 30 ANOs são maioria

De volta ao Brasil, em três meses, Mariana criou, ao lado de outros dois entusiastas de viagens, Alice Ratton e André Fran, a Volunteer Vacations (VV), uma agência de experiência de trabalho voluntário nas férias, que liga o cliente a ONGs parceiras em mais de dez países. Entre as instituições ajudadas, estão creches, asilos, sítios arqueológicos e outros lugares em que Mariana mesmo já esteve, como centros de recuperação de leões, elefantes e outros animais.

Mas agências específicas como a VV não são as únicas empresas que intermedeiam o trabalho social no exterior — experiência que, aliás, na hora de um processo seletivo, torna qualquer currículo mais atraente e competitivo.

Segundo a CI, uma das agências de intercâmbio que atuam no setor, a cada ano cresce 30% o interesse das pessoas por trabalho voluntário durante as férias. O perfil delas? Do total, 75% são mulheres, e 60% têm entre 22 e 30 anos.

A designer Thaís Capeto, 31 anos, é um exemplo. Ela viajou em julho de 2013 para Gana, onde deu aula de artes para crianças e adolescentes de 4 a 15 anos. Thaís conta que seu objetivo era conhecer uma realidade diferente por meio de uma imersão que só um período maior, como as férias, proporciona.

Thaís trabalha numa indústria nacional de brinquedos e percebeu, pelas ruas da capital Acra, que artigos infantis são escassos na região. Entre os trabalhos que desenvolveu por lá, ela ensinou as crianças a fazerem brinquedos improvisados com sucata e lixo.

— Porque elas se envolviam com a construção, a brincadeira era mais pura. Quando convivemos com pessoas tão simples, percebemos nossos excessos — lembra Thaís, que foi para Gana por um pacote de viagens da agência Experimento, que tem programas ligados a educação, meio ambiente, cultura, saúde e cuidados com animais, em mais de 18 países, como Índia e Nepal.

Já a administradora Raffaella Monteiro, 29 anos, só queria tirar férias do agitado mercado financeiro em que atua. Sem companhia, porque as amigas não estavam disponíveis, viu no programa de voluntariado de uma agência uma boa oportunidade de viajar e conhecer gente. Na correria de fechar a viagem em cima da hora, resolveu tudo sozinha sem suporte especializado e optou pelo país que menos chocaria a família.

— Meus pais ficaram muito preocupados, e eu não queria arrancar os cabelos deles. A África do Sul era o país mais avançado entre as opções, e escolhi uma região livre do risco de malária — explica, destacando que há trabalho para todos os gostos e experiências. — Ninguém te joga na Cruz Vermelha e te põe para fazer sutura.

Sim, porque alguns países geram medo e desconfiança nos voluntários e suas famílias. Mas há inclusive empresas, como a VV, que dão consultoria sobre costumes e comportamentos das regiões, planejam e monitoram a jornada, além de disponibilizar um representante da ONG com transporte para recepcionar o viajante no aeroporto.

Preços variam entre países e agências

No geral, os preços variam muito de acordo com país, agência e ONG. Gana, por exemplo, pode custar entre R$ 550 e R$ 2 mil, excluída a passagem. África do Sul, de R$ 2,2 mil a R$ 2,8 mil. Para Raffaella, esse pode ser um jeito muito diferente de curtir as férias, mas ela garante que o que seria uma vivência puramente altruísta se reverte em benefícios para a vida de quem faz.

— Talvez você não conheça museus, nem passe dias deitado numa praia paradisíaca, mas se sentirá bem relaxado, porque ajudar os outros elimina o estresse. Achei que ensinaria um monte de coisas, mas quem aprendeu fui eu. Entre o meu trabalho profissional e o voluntário, há um abismo enorme. Saí da miséria para as altas cifras do mercado financeiro. Retornei mais blindada do ambiente pesado em que vivo.



Gostaram da reportagem?
Fiquem ligados nos próximos posts e até mais o/

0 comentários:

Postar um comentário